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Após partos fora dos leitos hospitalares, Cremeb afirma: ‘Tem muito obstetra’

Um momento que deveria ser de alegria e celebração a vida se tornou um momento de agonia e sofrimento para algumas baianas. Nas duas últimas semanas, três mulheres tiveram que dar à luz fora dos leitos hospitalares devido à falta de obstetras nas unidades de saúde pública que elas procuraram. Uma delas chegou ao hospital e teve que realizar o parto no corredor. Outra, devido a falta de atendimento, saiu da unidade e teve o filho em um banco de praça. Uma terceira grávida, desta vez adolescente, teve a criança na sala de espera do hospital.

Dados fornecidos pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) apontam que, em 2018, foram realizados cerca de 529 partos por dia em hospitais públicos da Bahia. As informações se referem a partos vaginais e cesárias. Não há informação se as crianças nascidas em condições como as citadas no início desta matéria são contabilizadas pelo estado.

O conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), José Augusto da Costa, avalia que o problema na área de obstetrícia na Bahia reside na falta de valorização dos profissionais desta especialidade. “Hoje em dia, na minha experiência, a tendência dos médicos é fazer a residência em ginecologia e obstetrícia e ir fazer ultrassom e outros procedimentos que dão maior remuneração do que dar um plantão, que a remuneração não é conveniente”, afirma o médico.

De acordo com a Sesab, o estado contabiliza 532 vínculos de médicos obstetras. Destes, 406 são vínculos de médicos estatutários e 126 são de profissionais que prestam serviço em unidades da Sesab geridas por organizações sociais. Por lei, é permitido ao profissional médico ter até dois vínculos no serviço público estadual. No entanto, vale ressaltar que não há impedimento que um profissional com vínculo estatutário preste serviço nas unidades sob gestão de organização social, desde que ele não seja sócio da empresa prestadora de serviço. Desta forma, o total de 532 vínculos não significa 532 profissionais. Portanto, o número de médicos obstetras vinculados ao estado, que possui 417 municípios, pode ser ainda menor.

Segundo o conselheiro, no entanto, o problema não está na quantidade de profissionais da especialidade, e sim na distribuição de médicos no estado. “Ao meu ver, deveria ter uma boa distribuição e incentivo, porque tem muito obstetra”, declara o profissional. “O que acontece é que o número de obstetras que existem e o número de obstetras que estão nas unidades são números diferentes. Uma coisa é quantos obstetras nós temos e outra é quantos querem dar um plantão na maternidade, quantos querem ficar como plantonistas”, completa.

Para o médico, todo sistema público de assistência a gestantes possui deficiências graves. Ele também destaca a importância de um pré-natal adequado. Segundo José Augusto, os pré-natais precisam ser feitos de maneira correta, a fim de dar tranquilidade à mulher e fazer um encaminhamento devido, para que não aconteçam partos fora dos leitos. Ele acredita que, nos casos das mulheres que deram à luz em lugares inapropriados, há a possibilidade de elas não terem feito um acompanhamento gestacional qualificado. “Existem os casos que não deu tempo de chegar na maternidade e teve filho, e isso acontece muito frequentemente”, assegura.

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