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Fake News e pesquisas contribuem para comportamento manada, avaliam especialistas

Pesquisas eleitorais e notícias falsas, elementos marcantes na eleição de 2018, influenciam diretamente um fenômeno que a psicologia comportamental coloca como efeito ou comportamento de manada, de acordo com a psicóloga e professora do curso de Psicologia da Universidade Salvador, Daniela Bahia Moscon, e o conselheiro do Conselho Regional de Psicologia da Bahia Renan Viana.

Chama-se de “comportamento de manada” o fato de determinado indivíduo seguir comportamentos e padrões comportamentais de um grupo, que para ele podem ocupar uma posição de referência, sem que necessariamente produza uma reflexão sobre com o que está concordando ou a maneira como está agindo. Segundo Renan Viana, “o exemplo mais clássico é o que se tem visto nessas eleições”.

“As pesquisas eleitorais vão gerar um efeito que é o de ter a impressão de que a decisão já está tomada, e se a decisão já tá tomada você não vai votar com a minoria. Vai votar com a maioria que está ganhando”, explica o conselheiro.

Em relação às pesquisas de intenção de voto, a professora Daniela Bahia afirma que um mecanismo de recompensa do cérebro humano é uma das razões para o efeito. De acordo com ela, as pessoas geralmente não querem ficar associadas a um candidato perdedor, uma vez que quando se ganha algo, nesse caso as eleições, é extremamente recompensador, e isso traz benefícios para o cérebro.

“É muito mais fácil e confortável para o ser humano, do ponto de vista cognitivo, se ele concorda com a maioria do que se discorda. Por uma série de razões. Primeiro é que se a maioria pensa de uma maneira, isso faz com que a pessoa ache que aquela é a maneira correta. Segundo é que se a maioria errar, a pessoa se sente mais confortável também, já que outras pessoas erraram”, esclarece a educadora.

Os dois estudiosos chamam a atenção ainda para o papel exercido pela divulgação de Fake News. Daniela diz que, apesar de notícias falsas existirem há muito tempo, a facilidade de acesso à internet, redes sociais e principalmente o WhatsApp potencializaram o efeito que a disseminação de informações falsas provocam.

“O eleitor não considera mais os pontos críticos, ele segue o comportamento da maioria, simplesmente. Repete frases de efeito que são produzidas de uma forma intencional, que são muito bem elaboradas. É como se ao reproduzir essas frases ele se tornasse parte daquele grupo”, avalia a professora.

Conforme Viana, o comportamento de manada não está diretamente ligado à escolaridade dos alvos que atinge. O psicólogo entende que o fato a que se pode relacionar é o acesso a informação. Uma vez que, mesmo pessoas com nível superior, por exemplo, podem reproduzir falas, comportamentos e críticas padronizados.

A professora Daniela Bahia concorda com a opinião de Viana e afirma que “o fato de uma pessoa ter nível superior no Brasil não significa que ela tenha desenvolvido senso crítico, então mesmo a população que tem nível superior nem sempre tem esse discernimento e consegue fazer essa diferenciação”.

A PERSPECTIVA DA CIÊNCIA POLÍTICA

Por outro lado, o filósofo e doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) Rodolfo Fai defende que o conceito do efeito manada não é instrumental para a situação política vivida neste momento no Brasil. O pesquisador acredita ainda que o conceito do comportamento de manada se trata de uma “tentativa de desqualificar as orientações eleitorais por um viés da irracionalidade que não ajuda elucidar o momento”.

“Há sim reflexão individual no voto, inclusive, nada autoriza alguém desqualificar a racionalidade destas reflexões. O segundo turno, por exemplo, é sempre um momento de aprofundamento das dicotomias políticas em cena. É esperado que uma série de tendências se afunilem, mas não gosto do termo ‘manada’, retira a capacidade criativa de todo o processo eleitoral”, defende.

Em relação às Fake News, Rodolfo Fai acredita que a dinâmica da velocidade da informação se trata de uma variável importante para o entendimento do processo político, principalmente ao levar em conta que esta é a primeira eleição com mídias sociais amplamente difundidas. “O que já foi chamada de ‘efeito manada’, na minha percepção, é a racionalização individual que nasce da ampliação da opinião pública amplamente influenciada por novos canais digitais”, avalia.

No que diz respeito a pesquisas de intenção de voto, o pesquisador critica a interpretação das pessoas a respeito dos levantamentos. De acordo com ele, os eleitores têm assumido uma posição de adaptar a realidade às suas próprias teorias. “Quando a pesquisa vai bem, é confiável, do contrário, perde o valor”, diz o filósofo que exalta a confiabilidade dos levantamentos e o fato das pesquisas não serem apenas sondagens. “Elas são também estratégias de convencimento, todavia, não saberia dizer qual este impacto”, conclui.

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