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Grupo de ciclistas de Montes Claros é infectado por esquistossomose, após viagem à Chapada Diamantina

Ciclistas suspeitam que a contaminação tenha ocorrido no poção represado de uma fazenda na cidade de Lençóis; crianças e uma grávida de cinco meses participavam da viagem.
Grupo de ciclistas de Montes Claros foram infectados possivelmente em viagem ao interior da Bahia (Foto: Rafael Macedo/Arquivo Pessoal)

Após um passeio no interior da Bahia, um grupo de 32 amigos de Montes Claros, que pratica ciclismo, foi infectado por esquistossomose. Segundo alguns integrantes do grupo, a viagem à Chapada Diamantina aconteceu durante o Carnaval, e havia mulheres e crianças. Em um dos dias do passeio, o grupo esteve em uma fazenda particular do município de Lençóis. Há suspeita de que o local de contaminação tenha sido em um poço de água, conhecido como poção, na sede da propriedade, onde se encontra a Cachoeira do Mosquito. Parte do grupo passa bem; um homem e uma grávida continuam em observação.

Conforme o G1, depois de aproximadamente 45 dias da viagem, algumas pessoas do grupo começaram a sentir os sintomas da doença, conhecida também como “xistose” ou “barriga d’água”. O empresário Marcelo Braga, de 41 anos, esteve na viagem e foi quem contratou o guia local para o passeio. Ele conta que foi apenas no poção represado da fazenda que todos os integrantes participaram da programação.

“Cada dia era uma programação de pedal e nem todas as pessoas participavam. Neste dia do passeio pela fazenda, escolhemos um lugar específico justamente para as esposas e crianças irem. Como elas também foram infectadas, desconfiamos que foi lá o local da contaminação. Desde que descobrimos o fato, eu já tentei ligar para as Secretarias de Turismo e de Saúde do município e até na Vigilância Sanitária. Eu oficializei o caso por oficio, mas ainda não tive retorno”, explica.

Grupo suspeita que o local onde os ciclistas foram infectados é em um poção represado em uma fazenda no município de Lençóis (Foto: Rafael Macedo/Arquivo Pessoal)

Segundo o G1, o proprietário da fazenda disse que assim que soube do caso dos ciclistas infectados, por um e-mail, interditou o acesso ao poção e solicitou às autoridades de controle sanitário do município a avaliação da água e do local. Ele esclarece ainda que a fazenda encontra-se dentro de uma área de preservação ambiental, sem moradores ribeirinhos e, por tanto, sem fonte que gere contaminação na propriedade. A expectativa é que os órgãos competentes tenham o resultado da análise da água em até 60 dias. O proprietário reforça que o poção é um rio corrente.

O empresário Rafael Macedo, de 38 anos, explica que começou a ter febre e empolação pelo corpo após a viagem. Ele conta que várias pessoas do grupo começaram a sentir sintomas isolados e que cada um procurou um médico, achando que estava com alguma virose ou até mesmo dengue.

“Eu sofri muito, mas já estou melhor depois da medicação. Um amigo chegou a ficar internado por três dias tomando antibiótico, até o diagnóstico ser confirmado. Outro ainda está em tratamento, porque o caso foi mais grave; a contaminação chegou até a medula. Neste dia da contaminação, as mulheres e as crianças foram em uma ‘van’. Cada pessoa pagou R$ 15,00, já que a propriedade é particular, e passamos o dia o local. Sempre fazemos esse tipo de viagem”, detalha.

Durante o passeio, os ciclistas perceberam a presença de muitos turistas no poção, inclusive de estrangeiros. A preocupação é da área permanecer contaminada e outras pessoas se infectarem.

“Ficamos alarmados com os resultados dos exames que foram dando positivo; o tratamento não é tão simples como quando a gente compra um remédio na farmácia. Uma infectologista está acompanhando o grupo. A medicação é fornecida pelo SUS. Nós contratamos um guia da Bahia para nos levar ao local, e lá não tinha nenhum tipo de aviso; apenas pagava e entrava. É preciso que as autoridades tomem alguma providência”, disse o empresário.

Luciana teve resultado de exame reagente (Foto: Luciana Soares/Arquivo Pessoal)

Luciana Soares, de 38 anos, estava no grupo com o marido e uma filha de sete anos. Na época da viagem, ela estava grávida de cinco meses, hoje ela está no início do oitavo mês de gravidez. Ela e a família não sentiram os sintomas, mas fizeram os exames de sorologia por recomendação médica. Os resultados foram reagentes para todos.

“Nós ficamos assintomáticos, mas a maioria do grupo começou a sentir os sintomas agudos. No grupo do ciclismo tem profissionais da área médica, que orientaram a todos a fazer os exames. O resultado saiu no final da semana passada e nós três fomos infectados. Meu marido e minha filha foram medicados e estão bem. Eu vou em minha obstetra amanhã [quinta-feira (4)] para saber como será meu tratamento”, explica a médica.

Ao G1, a Coordenação da Vigilância Epidemiológica de Montes Claros confirmou que a medicação é disponibilizada somente pelo SUS, sendo que a entrega do remédio Praziquantel é feita pela farmácia da Policlínica Alto São João. A Coordenadoria explicou também que, como a contaminação não pertence nem mesmo ao Estado, não foi preciso fazer intervenções no município. A entrega dos medicamentos para tratamento da doença é feita mediante receita médica e exame comprobatório.

Em nota, a Prefeitura de Lençóis afirma que já está tomando providências para realizar uma campanha de prevenção junto à população, incluindo as escolas do município e agentes de turismo local, e que, a partir desta quinta-feira (4), irá realizar a análise da água, a fim de diagnosticar os supostos pontos contaminados.

Em Montes Claros, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, não há área interditada por comprometimento da doença.

Sobre a doença
A médica infectologista Letícia Melo acompanha o grupo de ciclistas infectados e explica que apenas o homem que teve a medula atingida pelos ovos da larva, e a grávida, precisam de cuidados e observações. “Os primeiros sintomas podem aparecer em até oito semanas da infecção. No caso do grupo, o diagnóstico não foi feito de imediato; a maioria dos casos foi branda e com muitos sintomas inespecíficos, como vermelhidão e febre. Nas outras pessoas os sintomas nem apareceram. Estamos acompanhando os dois casos que requerem cuidados”, explica.

Segundo a médica, a infecção por esquistossomose é adquirida mediante o contato com águas contaminadas com ovos do Schistosoma e a presença do caramujo, onde o parasita passa uma parte do desenvolvimento dele e tem a sua maturação para a forma larval denominada cercaria. “É a larva que entra diretamente pela pele das pessoas. Os sintomas das doenças vão desde as dermatites, com a penetração da larva, até os sintomas da fase aguda, que é conhecida como febre de Katayama. Nessa fase, o paciente pode apresentar febre, perda de apetite, dor abdominal, dor de cabeça, vômitos, coceira, tosse, diarreia e emagrecimento. Na fase aguda, pode haver o aumento do fígado e do baço, febre, perda de apetite e dor de cabeça; já na fase crônica, pode haver a dilatação do abdômen, por isso a doença também é conhecida por ‘barriga d’água'”, explica.

Montes Claros
A Secretaria de Estado de Saúde informou que a região de Montes Claros tem incidência do caramujo veiculador da esquistossomose. O G1 apurou que um dos locais que tem incidência do caramujo é o Parque Estadual da Lapa Grande. No entanto, a gerente explicou que o parque, além de estar fechado à visitação, não permite banho por conta da captação da água. A previsão de reabertura para visitação deverá acontecer ainda nesse mês de maio, com a presença de 21 novas contratações.

 A Secretaria de Estado de Saúde não soube dizer se outras cidades do Norte de Minas têm locais interditados em função da doença, porque nem todos os municípios notificam a secretaria sobre as ações pontuais.
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