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Iraquara: Comunidades rurais manifestam contra fechamento de escolas

Pais usam cartazes para protestar. Foto: Bruno Lima

Moradores de comunidades da zona rural de Iraquara protestam após Secretaria de Educação decidir nuclear prédios escolares.

Na manhã da última quarta-feira (18), as comunidades de Calumbi I e II, Caatinguinha, Queimada Grande, Baixa da Juriti e estudantes da Universidade do Recôncavo Baiano (UFRB) participaram da sessão da Câmera de Vereadores da Cidade de Iraquara com objetivo de questionar a posição dos legisladores em relação à nucleação de escolas em suas localidades.

Essa medida faz parte de um conjunto de ações que ocorrem desde o começo do ano no município iraquarense e em outras cidades da Chapada Diamantina, como Piatã e Ibitiara: escolas nucleadas, alunos sendo remanejados para outros ambientes e corte de funcionários. Segundo as prefeituras, os cofres públicos municipais não têm conseguido arcar mais com a quantidade de profissionais contratados e a solução é o enxugamento da folha de pagamento.

De acordo com dados da Secretaria de Educação de Iraquara (Semec), as medidas permitiram uma folga de 60 mil reais na folha salarial. Cinquenta e sete professores em desvio de função, por exemplo, voltaram para a sala de aula. Cada escola passou a contar somente com um coordenador pedagógico por cada segmento. No entanto, a Prefeitura e a Semec afirmam que essas ações ainda são insuficientes. Para os gestores, é necessário a nucleação de pelo menos 50% das escolas do município até 2018, a começar pelas turmas multisseriadas, localizadas nos pequenos povoados.

Vivaldo Mangabeira, agricultor, é contra o fechamento das escolas. Para ele, é um processo de desvalorização da comunidade: “Cada lugar tem sua cultura, seus costumes. Tenho uma filha de 4 anos, me preocupo muito que ela saia de nossa comunidade para ir para a cidade, principalmente por conta das más condições e falta de segurança do transporte escolar.” Na oportunidade, Vivaldo salientou a necessidade de os vereadores cumprirem a função de fiscais diante de situações como essas. O pedagogo Valdemir Carneiro disse que “quando a criança é de uma comunidade que não tem escola e ela já sabe que vai ter que pegar um ônibus para ir estudar, é uma coisa. Agora, você ter a sua escola, estar acostumado a frequenta-la e depois ter de passar a utilizar carro, é outro transtorno”.

Profª Eunice: “Aquela sala de aula é um pedaço de mim”. Foto: Bruno L.

Jabysson Fidelis, graduado em Pedagogia, estudante de Educação do Campo da UFRB e oriundo de escola do campo multisseriada, trouxe reflexões importantes acerca do diálogo entre atores sociais, embasado por pensadores renomados da educação: “Neste espaço, neste recorte do Brasil, eu tenho pessoas que se acham burgueses. Tenho pessoas que se acham coronéis. E eu tenho aqueles que ainda estão na senzala, ou seja, aqueles que ainda são tratados como escravos, submissos, submergidos a tudo que está posto. E nós estamos aqui pra dizer que basta! Ou dialoguem com as comunidades e com os pais ou nenhuma escola será fechada. Não ter diálogo é massacrar vozes”, concluiu.“O fechamento de escolas não é uma forma para o município crescer, isso ajuda o lugar a diminuir. Para nós, que estamos nestas comunidades pequenas, que só temos duas coisas, escola e igreja, ao fechar a escola, nosso povoado fica igual hospital sem UTI”, diz Sueli Souza, moradora de Caatinguinha. Ela colocou que, nas reuniões para tratar do assunto, o prefeito Edimário Guilherme de Novaes e a secretária de Educação, Simone Neves Pinto, mostram-se irredutíveis. Sueli ainda conta que pediu ajuda aos vereadores para conter essas medidas por meio de diálogos entre o legislativo, executivo e comunidades afetadas.

Mães se deslocaram de comunidades distantes para protestar. Foto: Bruno Lima

“A verba que está vindo não está sendo suficiente pra pagar a folha de pagamento. No mês de março, por exemplo, a folha chegou a 1 milhão e trezentos reais só para pagamento de professor e diretor. Quando entrou pessoal de apoio, esse valor subiu pra quase 1 milhão e novecentos mil , e a arrecadação do município foi de 1 milhão, trezentos e quarenta e seis, uma diferença grande de quase 500 mil reais”, pontuou Didácia Costa, presidente do Sindicato dos Professores (APLB).

Os vereadores presentes na sessão da câmara, em unanimidade, declararam ser contra o fechamento/nucleação destas instituições escolares: “Nenhum projeto de lei foi votado nesta Câmara, aprovando ou desaprovando a nucleação de escolas do nosso município”, declarou o vereador Branco. A Secretaria de Educação e a Prefeitura Municipal de Iraquara foram procuradas para maiores esclarecimentos, mas até o fechamento da matéria não deram retorno à equipe de O Bambúrrio.(Repórter:Bruno Lima /Jornal O Bambúrrio – UNEB campus XXIII )

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