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CHAPADA: Como um vilarejo em Brotas de Macaúbas se uniu para salvar o tatu-bola na Chapada Diamantina

FOTO: Divulgação/Liana Sena

Localizada na Chapada Diamantina, na Bahia, o vilarejo de Sumidouro, em Brotas de Macaúbas, é o lar de pouco mais de 200 pessoas. Apesar de seu tamanho, é o primeiro lugar do país a utilizar a ciência cidadã e a conservação comunitária para proteger o tatu-bola-da-caatinga.

“Primeiro, iniciamos um programa de monitoramento do tatu no vilarejo como parte de um levantamento geral de biodiversidade para o licenciamento ambiental de um parque eólico”, diz Magalhães, pesquisador-chefe do projeto, que tem apoio do programa Edge (Espécies Evolutivamente Distintas e Globalmente Ameaçadas, na sigla em inglês, da Sociedade Zoológica de Londres. “Mas, então, percebi que era uma oportunidade fantástica de fazer algo mais por esse espécie carismática”

A comunidade tem desempenhado um papel crucial na coleta de dados valiosos sobre o tatu em Sumidouro desde o início do projeto. Assistentes de campo locais monitoram o animal em terras agrícolas e trechos de floresta enquanto moradores do vilarejo relatam avistamentos de tatus para a base de dados do projeto, fornecendo fotos e coordenadas de GPS.

Combinar esses dados a uma técnica estatística conhecida como “modelo de ocupação” permite que os pesquisadores criem um retrato abrangente da ocorrência e dos movimentos do tatu.

Santuário por acaso

FOTO: Divulgação/Marcos Peso

O vilarejo de Sumidouro nem sempre foi um local seguro para o tatu-bola-da-caatinga. Até recentemente, o animal às vezes estava no cardápio da população, caçada pelos moradores por causa de sua carne. “Quando a caça ainda era praticada na área, esse animal estava muito ameaçado”, diz Cosme da Rocha, assistente de campo do projeto.

Em 2009, uma desenvolvedora de energia renovável chegou aos arredores do vilarejo e construiu três parques eólicos, alterando radicalmente a infraestrutura local. Apesar de o impacto dos parques eólicos sobre a biodiversidade e as comunidades tradicionais no Brasil continuar a ser um tema controverso, no caso de Sumidouro houve benefícios para a biodiversidade – embora indiretamente, de acordo com Magalhães.

Novas oportunidades de trabalho melhoraram o padrão de vida dos moradores, reduzindo a dependência da agricultura itinerante na Caatinga e freando a perda de habitat. Juntamente com os parques eólicos, veio também mais policiamento – isso desencorajou a caça ilegal, resultando em maior proteção aos tatus.

Em meados da década de 2010, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais chegaram ao vilarejo para realizar levantamentos gerais de biodiversidade e promover a conservação da biodiversidade local por meio de palestras, oficinas e conversas informais com os moradores.

Ao alavancar a relevância cultural do tatu-bola-da-caatinga como mascote da Copa do Mundo da Fifa, o programa educacional teve como foco a conscientização a respeito do que está ameaçando a espécie e a importância de sua conservação. Uma equipe de assistentes de campo locais, que já estavam familiarizados com a espécie e seus hábitos, foi contratada para monitorar a população de tatus nos arredores do vilarejo, de forma a coletar dados.

O tatu se tornou um símbolo do orgulho local em Sumidouro. “Nós realmente não tínhamos muita compreensão sobre o tatu e sua importância antes, mas agora temos consciência sobre preservar a fauna e a flora da área”, diz Claudimiro Souza, presidente da associação de produtores rurais locais. “Ganhamos muito mais preservando esse animal do que matando. Por isso, abraçamos a causa e esperamos que ela trará visibilidade para nossa comunidade”.

Resultados Promissores

FOTO: Divulgação/Yushin Chen


Mais de uma década após a mudança econômica em Sumidouro, a redução na pressão exercida pela caça deu ao tatu a trégua tão necessária. Os pesquisadores estão começando a ver sinais que sugerem que a espécie está no caminho de recuperação. “Hoje está ficando muito mais fácil de achar [tatus]”, diz Rocha. “A redução da caça está dando resultado. Vimos os tatus se multiplicarem com o passar do tempo.”

De acordo com as constatações do projeto, o tatu de fato parece disseminado em Sumidouro. “O que nossa pesquisa demonstra é o potencial que essa espécie tem não só para sobreviver em ambientes modificados pelo ser humano, mas também para se tornar comum, desde que a caça e a perda de habitat sejam enfrentadas por meio da inclusão das comunidades locais na conservação”, diz Magalhães.

(Por James Hall, via Uol).

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