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Energia Eolica e Solar Traz Bilhões Para Nordeste, Mas Benefício Fica na Mão de Poucos

A aposta em fontes limpas, como a eólica e a solar, fez do Nordeste o principal foco de ampliação da capacidade de geração de energia no país.

Mas, apesar da promessa de emprego e renda, a chegada dos projetos trouxe também um sentimento de que os benefícios ficam nas mãos de poucos, ampliando as desigualdades em áreas ainda afetadas por esgoto a céu aberto e falta de luz e água.

Os projetos no Nordeste representam 47,4% da nova capacidade de geração hoje em construção no país. Dois leilões na semana retrasada contrataram 64 projetos eólicos e solares na região, com investimentos de R$ 11,2 bilhões.

“O Brasil não tem mais grande hidrelétrica, e a matriz energética vai caminhar aceleradamente para eólica e solar, que têm maior potencial no Nordeste”, diz o professor Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ (Gesel).

Mas, diferentemente de hidrelétricas e da produção de óleo e gás, eólica e solares não pagam compensações financeiras a Estados e municípios.

Os principais beneficiados locais têm sido os proprietários de terra que “pegaram torre”, aqueles que cederam parte dos terrenos para a instalação de aerogeradores, em troca de uma renda mensal entre R$ 1.200 e R$ 1.800.

A Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) estima que mais de 4.000 famílias recebam hoje pelo arrendamento de terras para a implantação de aerogeradores no país, em um total de R$ 10 milhões por mês.

“A sorte é que essas torres aí trouxeram alguma renda para a gente”, diz o agricultor David Vicente da Cruz, 54, que vive na Serra da Rancharia, em Araripina (PE). Com a seca, diz ele, a produção de mandioca despencou.

Além do arrendamento das terras, ele recebeu R$ 150 mil em indenização para deixar sua casa e um galpão onde guardava ferramentas. O dinheiro foi usado para uma casa nova e em um caminhão-pipa para economizar os R$ 200 que pagava toda vez que precisava buscar água.

A onda de investimentos no Nordeste ganhou força em 2012, e teve papel fundamental no suprimento de energia na região, como alternativa às hidrelétricas do rio São Francisco, castigado pela seca.

A energia dos ventos foi responsável por 45% da geração de energia no Nordeste no ano. No dia 14 de novembro, um recorde, abasteceu 64% da demanda local.

Mas a geração de empregos se concentra no período das obras, uma vez que a baixa qualificação local dificulta o aproveitamento durante a operação, demissões em massa surgem logo depois do período de construção.

“Nas torres, só fica gente de fora. A gente, só contrataram para fazer terraplanagem, subir poste…”, reclama Edilson Oliveira de Carvalho, 45, que trabalhou nove meses na construção do parque, mas está desempregado desde que as obras terminaram.

A baixa qualificação da população é um dos fatores que impedem o maior aproveitamento. Com ensino fundamental incompleto, João Paulo Tomaz da Silva, 37, trabalhou por cinco meses na construção de um parque perto de sua casa, em Araripina, e chegou a ganhar R$ 1.300.

Há oito meses desempregado, vive do Bolsa Família com a mulher e quatro filhos. “Eu queria que eles voltassem para cá, porque o negócio aqui está feio”, lamenta ele, que é vizinho de uma proprietária que “pegou torre” e ganha R$ 1.200 por mês.

“É uma situação contraditória. O Nordeste está contribuindo para o país, mas os benefícios sociais são poucos”, diz Castro, da UFRJ.

(Fonte: Folha de São Paulo)

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