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Opinião: Queda de 2º ministro segue lógica bolsonarista com troca de seis por meia dúzia

A queda do segundo ministro do governo de Jair Bolsonaro obedece a uma lógica fácil de prever. Não a saída em si, mas a forma como Ricardo Vélez foi desconvidado do comando do Ministério da Educação. Foi assim com Gustavo Bebbiano, então homem forte no Palácio do Planalto e fritado em público pelo clã Bolsonaro. No princípio, as demissões foram negadas com todas as forças, mesmo que fosse inviável a permanência deles nos postos. Passado algum tempo, como se não houvesse tido nenhum esforço para desmentir as notícias, acontecem os desligamentos.

Tanto quanto as substituições, o modus operandi delas também vale uma análise. Vejamos o caso específico de Vélez no MEC. Era insustentável que o ministro permanecesse no posto diante de todos os absurdos e impropérios cometidos. Desde a proposta de gravar alunos entoando o slogan da campanha de Bolsonaro até a negação da ditadura militar, o então comandante da Educação não teve nenhuma ação que mereça destaque na sua passagem. Porém o presidente da República empurrou com a barriga a saída dele, parte influenciado pelo guru Olavo de Carvalho, padrinho de Vélez.

Há duas semanas, quando o ministro esteve na Câmara dos Deputados e foi desestabilizado pela deputada federal Tábata Amaral (PDT-SP), a jornalista Eliane Cantanhêde divulgou a demissão de Vélez do cargo. Como o governo se propõe anti-establishment – mesmo sendo tão sistêmico quanto qualquer outro -, Bolsonaro foi ao Twitter para tratar a informação como “fake news”, na ânsia do processo de descredibilizar a imprensa.

Entretanto, a permanência de Vélez no MEC seria favas contadas para qualquer pessoa mais atenta ao processo político no Brasil. Sem expertise e apenas reprodutor de uma ideologia de direita – numa espécie de antítese não-declarada de marxismo cultural (?) -, manter o então ministro no posto seria quase que a morte anunciada de um dos pilares de qualquer governo, a educação. Por duas semanas, valeria espezinhar a imprensa. Por mais que isso, era sangrar desnecessariamente um governo ligeiramente combalido com tantas polêmicas.

Assim, na sexta-feira, Bolsonaro sinalizou, também pela imprensa (olha só, a mesma tão criticada), que Vélez deveria pedir o chapéu e deixar o posto. Como o colombiano não pareceu afeito a sair do ministério e já sem o aval do olavismo, era natural que o “dia do fico”, como acabou batizada a segunda, se tornasse o “dia do adeus”. Tal qual foi indicado em dezembro, um tweet confirmou que Vélez já não seria mais ministro da Educação.

Não que haja uma redução da política anti-ideologias mais ideológica do Brasil recente. O novo titular do MEC, Abraham Weintraub, é adepto das mesmas teorias conspiratórias anti-comunistas e de controle do “marxismo cultural” das universidades pela esquerda brasileira. Talvez, a troca tenha sido seis por meia dúzia. E até que se tenha novas polêmicas que tornem insustentável a permanência do ministro, qualquer análise crítica a ele será “fake news”. Pensar criticamente não deve ser mais o nosso forte…

Este texto integra o comentário desta terça-feira (9) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do CN

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