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PALMEIRAS: Professora do Vale do Capão apresenta práticas de referência inspiradas em conteúdos da Formação Continuada

No distrito do Vale do Capão (Caeté-Açu), zona rural do município de Palmeiras, na Chapada Diamantina) a professora Enilzete Mendes e a coordenadora Rosana Mercês, da Escola Municipal de Primeiro Grau de Caeté-Açú, vem dando exemplo de como práticas de referências inspiradas em conteúdos da Formação Continuada Territorial da Secretaria de Educação da Bahia, impactam verdadeiramente na aprendizagem e na vida dos estudantes.

A coordenadora faz parte da formação continuada desde o início, em 2019, sempre fazendo a ponte entre a formação e os professores. Rosana faz parte da turma da formadora Maria Joselma Noronha que, recentemente, trabalhou a leitura e produção textual sob diversos aspectos, como a diversidade cultural e de linguagem, as formas de trabalho no contexto da realidade local e comunitária, o uso da leitura e escrita em práticas diferenciadas do cotidiano, além de reforçar o entendimento de que a leitura é um compromisso interdisciplinar.

Todo esse conteúdo ecoou no coração da professora Enilzete que, ao longo dos seus mais de 20 anos de profissão, desenvolveu um olhar atencioso e uma prática voltada para a transformação social. Filha de um agricultor autodidata e de uma professora disfarçada de mãe, sempre ouviu seu pai lhe dizer (e aos seus outros 13 irmãos) que o maior bem que um homem pode deixar aos filhos é a educação.

Assim, nascida, criada e lecionando na comunidade, Enilzete conhece bem a realidade local. Mas a percepção de que os alunos não tinham esse conhecimento foi o ponto de partida para que ela iniciasse uma série de projetos que os aproximasse das suas raízes culturais e históricas. “Percebi que meus alunos não conheciam a história local. Nas leituras em livros e sites, eles acreditavam que tudo que escreviam sobre o Capão era verdade.”

Concomitantemente, a formação trabalhava a leitura em todas as áreas do conhecimento. “Esse trabalho me fez refletir muito sobre a minha prática. Tem muito professor que acredita que ler e escrever é responsabilidade apenas de língua portuguesa, mas não é. Estudei como vivenciar de verdade a leitura em todas as áreas e através dessa leitura fomos descobrindo muita coisa, como rendeu!”. Nas aulas, mergulharam em diferentes fontes de informação e puderam analisar livros, notícias, histórias e até teses de mestrado. Para surpresa de todos, muito do que se contava sobre a comunidade não era verdade

A professora então trouxe para a discussão as origens indígenas, africanas, das comunidades quilombolas que viveram no entorno e até a influência das culturas estrangeiras presentes na localidade. “O objetivo número um era conhecer a própria história para reconhecer a contribuição de diferentes povos na construção sócio-histórica do lugar. Língua portuguesa para mim não é só ensinar gramática, é trazer o mundo para a sala de aula e analisá-lo”.

Até que um dia, um aluno a questionou sobre a representação do Nordeste observada em diversas pesquisas: “Por que só aparece a carcaça de um boi morto? É sempre a seca e nunca a Chapada”. Foi então que ela se deu conta de que o livro didático estava alheio à realidade local. A professora então, passou a criar seu próprio material didático, incluindo apostilas e exercícios que eram enviados para os estudantes

Outras iniciativas também “mexeram” com a comunidade. Estudando slogans, a professora propôs que os alunos criassem pensando no comércio local. Foi um verdadeiro sucesso, os pontos comerciais adotaram os slogans produzidos e hoje muitos aguardam a segunda edição da atividade. Os estudantes também ilustraram contos de um autor local, cujo próximo livro será novamente ilustrado pelos meninos e meninas da escola.

Neste “mergulho profundo na história”, como ela gosta de falar, outro aspecto chama atenção. Segundo a professora, era muito comum os alunos copiarem o que liam na internet para responder às pesquisas e usarem como ilustração fotos que encontravam na rede, sem se atentar aos direitos autorais. Ela passou então a trabalhar com as mídias digitais, explorando a diferença entre presença digital e cidadania digital. “Hoje pensam 10 milhões de vezes antes de pegar imagem na internet e copiar, existe lei, alguém que fotografou, direitos autorais. É papel do professor abrir os olhos dos meninos sobre a internet.”

A professora, que também criou uma biblioteca virtual com livros baixados de forma legal na internet, conta que já percebe uma diferença significativa na escrita dos alunos e na sua capacidade argumentativa. “Quando eles estudam o que está próximo, eles conseguem linkar com o que está mais distante, quando vêem um texto de outra realidade, eles já conseguem analisar. Partimos do território como identidade: o local com o global. Esse global não existiria sem mim, eu também faço parte.”

Para a coordenadora Rosana, esse trabalho demonstra amor e respeito pela comunidade. “Ele serve de referência para professores que atuam em outras disciplinas. A professora demonstra o amor e a dedicação do educador popular (em referência a Paulo Freire) que quer que a comunidade se conscientize de sua força, se aproprie desses saberes e em retorno fortaleça a sua identidade local”.

Chapada News

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