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Rui convocou líderes de partidos para debater apropriação da morte de PM por bolsonaristas

Um domingo de sol com temperatura máxima de 31°, como tantos outros em Salvador. Não fosse a pandemia, era certo encontrar um grupo de pessoas apreciando o entardecer, batendo palmas para o pôr-do-sol em um dos destinos turísticos mais visitados do Brasil. Naquele 28 de março, no entanto, a beleza do Farol da Barra deu lugar a uma tensão disseminada. 

O soldado da Polícia Militar, identificado como Wesley Soares Góes, em estado de aparente surto, fardado e com o rosto pintado de verde amarelo, dentro de um veículo Renault Duster marrom, invadiu a barreira de proteção e fez disparos para o alto . Dali em diante, foram cerca de 3h30 de negociações, sem efetivo sucesso. O PM disparou contra os colegas com um fuzil e em seguida foi atingido. Socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Wesley, ainda com vida, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), foi encaminhado para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde foi a óbito . 

 

Antes mesmo do trágico desfecho da ocorrência, diversos vídeos já circulavam nas redes sociais, sobretudo em grupos e páginas associadas ao apoio irrestrito ao presidente Jair Bolsonaro. Da notícia da morte do PM até um verdadeiro levante das redes bolsonaristas e uma ameaça de greve da Polícia Militar da Bahia foi coisa de minutos. Reunidos na frente da unidade de saúde, um grupo de policiais militares, naquela mesma noite, gritava e como que “a PM parou”. 

 

A tragédia se misturou, então, a uma série de ataques diretos ao governador Rui Costa (PT). Em uma rápida leitura do caso, o “tribunal” dos grupos extremistas culparam as políticas de distanciamento social, adotadas pela gestão estadual para conter a pandemia da Covid-19, como a causa primeira. O PM em surto foi tomado como “herói” por grupos bolsonaristas. A situação ganhou destaque nacional. Wesley era lotado em um batalhão da Polícia Militar em Itacaré, no litoral sul da Bahia, a 250km da capital. No domingo, ele se deslocou para Salvador conduzindo o próprio veículo, até chegar ao Farol da Barra.

 

E foi a politização do caso que fez o governador Rui Costa, já na segunda-feira (29) pela manhã, reunir de forma emergencial, como há muito não fazia, senadores e dirigentes partidários da base governista. A reunião, que aconteceu em ambiente virtual, contou com a presença do vice-governador João Leal, dirigente estadual do PP, dos senadores Jaques Wagner (PT) e Otto Alencar, que preside o PSD na Bahia; o presidente do Podemos, deputado federal Bacelar; o presidente do PCdoB, Davidson Magalhães e o presidente do PDT, deputado federal Félix Mendonça Jr. 

 

Conforme relatado ao Bahia Notícias, o clima da reunião foi também de muita tensão. O receio geral, sobretudo do governador Rui Costa, era a de que a apropriação política do caso gerasse alguma mobilização extrema na Bahia. “Preocupados com o bolsonarismo, com a possibilidade de encaminhar desestabilização do governo aqui”, contou uma fonte sob condição de anonimato. Não há confirmação se outras representações partidárias foram convocadas.

 

A reunião foi pautada no alinhamento de informações. O governador teria pessoalmente relatado de forma detalhada tudo que ocorreu na tarde anterior. “É complicado você ‘brincar’ com um grupamento armado. Não se sabe como pode findar. Então, o clima era de tensão”, disse a mesma fonte. 

 

Das preocupações que rondavam Rui Costa naquela segunda-feira –  além dos números da pandemia no estado, que findava o pior mês após o registro do primeiro caso um ano antes – a  mais pujante era a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF). Na madrugada daquela segunda, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados fez circular mensagem “incentivando” um motim de policiais militares contra o governador. 

 

“Soldado da PM da Bahia abatido por seus companheiros. Morreu porque se recusou a aprender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia. Esse soldado é um herói. Agora, a PM da Bahia parou. Chega de cumprir ordem ilegal”, escreveu Kicis no Twitter.  A mensagem foi apagada logo pela manhã. E então postou: “As redes ficaram emocionadas com a morte do soldado. Mas refletindo melhor prefiro aguardar os rumos da investigação”. 

 

Na mesma segunda-feira em que o governador dialogava com dirigentes políticos locais, outro grupo se reunia no Farol da Barra para protestar contra a morte do PM. Um homem chegou a encenar a morte de Wesley. Vestido de preto, usava ainda colete, coturno e sustentava uma arma nas mãos. Refez o movimento do PM morte, de pintar o rosto de verde e amarelo, e ficou deitado no Chão ao lado das bandeiras do Brasil e da Bahia. 

 

No final da tarde do dia 29 de março, o governador utilizou as redes sociais para lamentar a morte do policial. “Quero lamentar profundamente o fato ocorrido neste domingo e ao mesmo tempo manifestar meus sentimentos à família do policial envolvido. Também quero estender minha solidariedade a todos os policiais que participaram da operação e colocaram suas vidas em risco”, escreveu . 

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